Desenho zen • Zen Drawing

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Desenho feito durante sessão de modelo vivo do coletivo @Nua com a Marcela Müller

Quando fiz zazen pela primeira vez, me lembrei do desenho cego, quando você desenha sem olhar para o papel. E assim, a mente escapa dos julgamentos de “bom, ruim, feio, bonito, certo, errado”. Na hora em que você simplesmente olha, a realidade se mostra. É como é. E, nessa observação, nos mantemos no momento presente e, assim como no zazen, somos capazes de perceber a respiração e a maneira como ela vai se transformando. 

Mas a aproximação do zen com o desenho não para por aí. Quando se faz um desenho de observação, agora olhando para o papel, se percebe que as coisas não são o que se pensa delas. Por exemplo, para desenhar um nariz é preciso esquecer toda a ideia de nariz. E não é fácil. Tente fazer isso agora: dê uma olhada em um nariz. Como desenhar a transição entre o nariz e a bochecha? Não existem linhas marcantes, apenas sombras sutis. Dalton de Luca, com quem fiz aula de desenhos, sugeria que desenhássemos o “nariboca” (nariz + boca), “sobrancílios” (sobrancelha + cílios), os espaços entre as coisas. Uma arti-manha para desviar a nossa cabeça de conceitos e padrões, e simplesmente olhar o que existe. 

Nossa capacidade de percepção também está ligada ao ponto do caminho em que estamos. Por exemplo, num retiro que participei no Zendo, tive a função entregar os livros durante as cerimônias. E há um momento exato para se fazer isso, quando a prece está terminando e o sino toca. É nessa fração de segundo que se deveria começar a distribuir ou recolher os livros. Parece fácil, não? Foram quatro dias e meio e três vezes ao dia. E não foi fácil acertar o momento exato, às vezes foi rápido demais, ou muito lento; por vezes esquecia de fazer alguma saudação… Mas existe algo de belo nesses pequenos erros. A beleza de mostrar como sou e como estou no caminho. Com o desenho é a mesma coisa. Às vezes começo um desenho e, por algum motivo, as linhas vão crescendo e um pedaço fica bem maior do que o outro. Ou às vezes uma linha escapa, esqueço dela. Mas mesmo assim, o desenho já é. 

Existe também aquele momento do impasse, o desenho começado, com acertos e erros, todos ali. E dá aquela vontade de largar no meio, de simplesmente desistir. Sabe aquela vontade de mexer a perna quando ela formiga no meio do zazen? Aí então você faz a escolha: abandonar tudo naquele ponto ou seguir até o fim. Esse é o caminho. 

Desenho cego da Cibele Lucena de um encontro de zazenhos (assunto para um próximo post) E você pode ver os desenhos lindos da Cibele no instagram dela @cibele_desenha

Retornando • Returning

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Desenho
Modelo vivo é uma das atividades que a quarentena me trouxe de presente, esse desenho que fiz na sessão de modelo vivo/performance “Permitido chorar nesse local” com a artista Renata Caldas parte do festival Risco!

Foram meses sem escrever aqui. Okay, tive lá minhas razões para isso, sai de Pirenópolis para São Paulo e de lá para a praia onde estou morando desde novembro. Também peguei um trabalho grande de ilustração. Enfim, entre me mudar e ilustrar, me adaptar à vida na praia, não dei conta, não fiz posts. 

Há algumas semanas a piora da Covid no Brasil ficou evidente, aquilo que a gente sabia que ia acontecer estava acontecendo. Colapso do sistema de saúde, mais de 3.000 mortes por dia e a nova variante P1 tornando o vírus ainda mais agressivo. No meio disso tudo eu me dei conta que ir para os EUA pode não ser possível, com a manutenção da barreira para pessoas vindas do Brasil. Com isso comecei a pensar, como que eu refaço os meus planos e equaciono a minha vida profissional?

O meu primeiro pensamento foi, ligo para a minha ex chefe para ver se pego com ela freelas de design e diagramação. Mas aí eu parei e pensei… por que, depois de ter feito tantas outras coisas eu preciso voltar para um lugar conhecido, mas talvez não tão feliz?

Aí eu me lembrei de uma história que o Tenshin Reb Anderson contou num período de prática em Tassajara. Uns patos que viviam engaiolados foram libertos pelo seu dono. Eles saíram e voaram, voaram e nadaram, nadaram na lagoa e… voltaram. Voltaram para a gaiola! E foi assim que eu me vi.

E aí eu parei e pensei no que realmente me importa, em como eu quero viver a minha vida. E que o blog tinha ficado em segundo plano, ou mais, que eu ainda não tinha colocado a energia que eu poderia ter posto. E que o meu treinamento zen é para eu ser capaz de passar por momentos difíceis e estar aqui agora sem querer escapar para os Estados Unidos porque as coisas estão mais fáceis lá. Os ensinamentos que eu ouvi podem ajudar nesse momento tão difícil que estamos vivendo.

Se vc já me acompanhava ou se está chegando agora, se prepare para uma aventura. Como é viver uma vida zen? Dentro ou fora do mosteiro? Como que a gente se mantém vivo, sendo criativo nesse momento? Nós estamos vivos! Esse blog é a resposta que eu estou dando nesse momento, seja bem vindo à bordo!

A alma da casa • The home soul

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Quando a nossa vida está baseada em respeito e completa confiança, ela está completamente em paz. O nosso relacionamento com a natureza deve também ser assim. Nós devemos respeitar tudo , e nós podemos praticar respeitar as coisas na maneira que nós nos relacionamos com elas. Suzuki Roshi

A maneira que nós nos relacionamos com o nosso espaço e os nossos objetos é na verdade a nossa prática do Zazen fora do zafu (almofada).

A quarentena me pegou em Pirenópolis, eu vim passar 3 semanas e já estou aqui há mais de 5 meses, aluguei um loft num condomínio e esse espaço se tornou um pequeno templo.

Participei de um Mugon sesshin com a Sala Therigatha, um dia de se sentar e de completo silêncio, sem palestra do Darma ou leitura de sutras. A casa virou um zendo. Os sinos vindos através do computador indicaram a hora de sentar, de caminhar e de comer.  

Quando a gente tira um dia assim para fazer zazen junto com a Sanga, uma mágica acontece. Ao pararmos, percebemos e ouvimos tanto a nossa casa que é o nosso corpo quanto a nossa casa, onde moramos, elas começam a falar com a gente. A fala pode ser uma dor no pescoço ou no joelho, ou os pensamentos , que vem e vão. E a casa que se  mostra com luminosidade e detalhes que no geral não vemos. Foi como se as paredes falassem. Talvez essa mágica aconteça todos os dias, mas nós, na nossa correria do dia a dia não ouvimos.

A minha amiga Maria Elena Martinez, estudiosa dos povos originários do México me falou que na língua Maia Tsotsil não existe objeto, é só sujeito. As coisas não são “coisas”, elas tem alma (ch’ulel). E quando a gente silencia, a gente sente essa alma.

E você, como tem ouvido a alma da sua casa? Escreva, desenhe ou fotografe e coloque aqui nos comentários!

ZoomSanga•SanghaZoom

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Aquarela do encontro por zoom da Sala Therigatha para pensar ações conjuntas.

Ananda, assistente de Buddha perguntou a ele:
“Mestre, é verdade o que foi dito, que bons amigos espirituais são toda a metade da vida sagrada?” e Buda responde “Não Ananda, bons amigos espirituais são a vida sagrada inteira. Encontre refúgio na comunidade, a Sanga.”

Nesses tempos de confinamentos e incertezas, estar com a Sanga, o grupo de praticantes, é como achar água no deserto, sentir conexão e troca. Uma imagem bonita é que uma pessoa praticando sozinha é como uma árvore que cresce isolada, sabe aquelas que ficam todas retorcidas, às vezes inclinada pra um lado, enquanto que a Sanga é como uma floresta que cresce junto e é mais forte por isso.

Com a quarentena, os praticantes aparecem na telinha do computador ou do celular, mas enchem a casa com a energia da prática. Eu participo de alguns grupos, mas que na verdade é uma só, é Sanga de Buda. 

De terça e quinta às 7:30hr abro uma sala no zoom, a gente se senta ouvindo os passarinhos de Pirenópolis. Na quarta nesse horário tem Zazen e  Cerimônia da manhã com a Sala Therigatha.

Com o Zen Center de São Francisco eu participo do Online Zendo às 10:30. Também participei do Período de Prática no qual estudamos o treinamento da mente para a compaixão, conhecido como Lojong, uma prática tradicional tibetana com série de 59 slogans para a treinar a mente. 

Com a Sala Therigatha, todos os dias sentamos Zazen às 19hr e depois a Monja Waho Sensei lê um texto insirador, Tich Nat Han, Suzuki Roshi, Charlote Joko Beck. Mestres que iluminam a nossa prática com sua sabedoria e compaixão.

A Sanga também sonha junto, como é trazer para a ação o nosso voto do Bodisatva? Como podemos não fazer o mal, fazer o bem, fazer o bem a todos os seres? Com a Sala Therigatha, fizemos uma reunião para pensar ações, que a Monja Waho Sensei, chamou de “Tecendo o Grande Manto”, uma referência à pratica de costurar o manto de Buda quando as pessoas que fazem o compromisso de viver segundo os preceitos budistas, Rakusu para leigos e Okesa para monges. E para mim, me vem à cabeça a música dos Saltimbancos, autoria do Chico Buarque “ao meu lado há uma um amigo que é preciso proteger, todos juntos somos fortes não há nada prá temer! E no mundo dizem que são tantos, Saltimbancos como somos nós!”

E para você, como tem sido a sua prática com a quarentena?
Escreva nos comentários!

QuarentenaZen ZenQuarantine

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Eu escrevo de dentro de casa, você me lê de dentro de casa, isolados e juntos, somos um nesse momento.  Começou lá na China, parecia que era tão longe, foi chegando, a Itália já estava mais perto e de repente já estava aqui. Ao mesmo tempo que isolados, estamos juntos, todos passando pela experiência de confinamento social.

Um momento muito difícil, milhares já morreram ou morrerão, além da doença em si, a incerteza gera ansiedade e medo. Mas também há aspectos positivos, os canais de Veneza voltaram a ter cor verde, o céu da China despoluiu e mais tartarugas nasceram seguras nas praias em Pernambuco.

E milhares de pessoas e organizações estão disponibilizando conhecimento, aulas, meditações online e gratuitas.  E eu pessoalmente senti também essa necessidade de compartilhar mais da minha experiência com o Zen Budismo, Kundalini Yoga e arte e fazer essa ponte entre as pessoas. Se esse espaço do Entrezen ficou meio parado nos últimos meses, agora é hora de sacudir a poeira e colocá-lo à disposição.  Porque todos agora estamos passando por um retiro e podemos aproveitar esse momento como oportunidade.

Espaços de prática Zen online:

Brasil

Zendo Brasil – facebook ou http://www.zendobrasil.org

Diversas atividades regulares do templo estão sendo transmitidas online.
Zentchu Sensei, discípula da Monja Coen está fazendo diariamennte os Petiscos Zen no seu instagram Zentchu (Diana Silva) às 16 horas e no FB do Zendo Brasil às 18:00.

Estados Unidos

São Francisco Zen Center

SFZC – Zen Center de São Prancisco – todos os dias de semana de manhã e final da tarde e sábado Dharma talk. Horários de São Francisco. Acrescentar 4 horas para o Brasil.

https://www.sfzc.org/online-programs/online-zendo

Brooklyn Zen Center – NYC

Tem horários de zazen, iniciando às 7:15 da manhã (horário de NY )

Mais informações no link: https://brooklynzen.org/online-meditation-schedule/

Outros:

Mantras de Kundalini A cantora Snatam Kaur está um mantra de cura por 40 dias ao meio dia e aulas online.