Mais sobre compaixão •More about compassion

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As.4 afirmações Tibetanas

Continuando o post da semana passada, sobre o treinamento em compaixão, hoje eu vou escrever sobre as 4 afirmações tibetanas. E a recomendação de Norman Fisher é que você leia elas, depois você leia de novo, depois escrevê-las e refletir sobre elas, então fazer um diário sobre suas reflexões e depois então trazê-las para a sua meditação e reservar um tempo para uma reflexão pessoal.

As 4 afirmações são:

  1. A raridade e preciosidade da vida humana
  2. A inevitabilidade absoluta da morte
  3. O poder incrível e inabalável das nossas ações
  4. A inescapabilidade do sofrimento

Eu escrevo essas 4 afirmações e quase sinto que não deveria dizer mais nada, apenas deixar a sua força repercutir. 

Para mim elas implicam um ponto de mudança em seja lá qual for a situação que eu estiver passando, que elas permitem uma nova perspectiva. Lembrar de como é sagrado ter uma vida humana. Que são os seres humanos que tem a capacidade de atingir a iluminação, então não devemos desperdiçar essa vida.

E todos nós vamos morrer, tudo o que nasce, morre. Então como que eu estou vivendo a minha vida sabendo disso? Às vezes, quando eu estou em dúvida entre uma coisa e outra eu gosto de trazer essa reflexão, se eu morresse amanhã, o que eu preferia ter feito hoje?

Aí vem a questão do poder das nossas ações, tudo o que fazemos está interconectado com tudo que existe, e o que fazemos não se apaga, então as nossas ações tem grande poder, como usá-lo?

E por último lembrar que o sofrimento vai acontecer nas nossas vidas, ninguém está imune a ele de uma maneira ou outra, seja uma doença, a perda de alguém, o fim de um relacionamento, enfim, o sofrimento faz parte da vida.

Para mim essas reflexões me fazem voltar e pensar sempre sobre o que é importante, qual a maneira que eu quero viver a minha vida. E nesse caso esse próprio blog é uma resposta para isso. Quantas vezes eu penso, quantas pessoas estão lendo isso? Será que a minha modesta contribuição está sendo benéfica? Para mim não é necessariamente fácil manter esse espaço, escrever, pensar como fazer ele visível. Mas quando eu penso nessas questões eu resignifico o meu próprio fazer. 

E no próximo sábado, dia 12 de junho vai acontecer o próximo Zencontros, com a Onryu Mary Stares. Nós vamos falar desse treinamento já que ela pratica com os slogans há mais de 20 anos e liderou o período de prática no SFZC. Entre no link abaixo para se inscrever, evento vai ser em inglês e quando eu subir no Youtube vou colocar legendas em português. Se você tiver questões que você gostaria de ver respondidas, escreva nos comentários!

Clique na imagem para se inscrever

Compaixão, um treino • Compassion, a training

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A palavra compaixão vem do latim compassio, que significa o ato de partilhar o sofrimento de outra pessoa. Ou seja, ser capaz de se colocar no seu lugar e compartilhar a sua dor.

Como realmente sentir a dor do outro e querer compartilhá-la? Quantas vezes a gente já não está sobrecarregado demais com a nossa própria dor que é difícil ter espaço para a dor do outro? E também, como ter compaixão com aqueles que nos fazem sofrer?

Pois o Lojong, ou treino em compaixão nos propõe um caminho para conseguir isso. Ele é um treino, e é assim como uma musculatura que você exercita, precisando de constância para manter seu tônus. Você pode fazer a série do dia assim, abdominais, corrida leve e praticar compaixão consigo mesmo. Ou treino aeróbico e compaixão com aqueles que pensam diferente de você… Infinitas possibilidades de incluir no seu dia a dia.

Essa prática é usada tradicionalmente no Budismo Tibetano. Ela se originou na Índia, no século 13 e de lá foi para o Tibet. Quem primeiro trouxe para o ocidente foi Tungpa Rimpoche, e Pema Chödrön tem um livro com cartões dos slogans. Norman Fisher escreveu um livro com uma visão Zen desses ensinamentos, Training in Compassion, esse é o livro que eu estou usando.

Mas como que é esse treino afinal? Ele trabalha com 59 slogans, dividos em 7 pontos. Hoje eu vou escrever sobre o primeiro ponto, que é “Decida começar”. E esse ponto tem apenas um slogan, que é treine nas preliminares. Você decidiu começar, como fazer então? 

Norman Fisher elenca três maneiras de começar:

A primeira é trazer todas as situações difíceis da sua vida para o treino, pode ser um fim de namoro, a perda de um ente querido, uma doença inesperada. Lembro-me de quando conheci zen em 2006, estava superando meu divórcio e fui a um retiro de Zen Yoga com a Monja Coen. Ela disse que só existe desilusão onde existia ilusão e isso me fez refletir muito sobre o meu casamento e sobre a minha vida. Aquele foi o meu momento de decidir começar, senti que tinha de trazer toda a minha vida para a almofada de meditação.

A segunda maneira é iniciar e se ancorar numa prática meditativa. Pode ser o que for mais adequado para você. Para mim é o zazen, parar e se sentar em silêncio e observar corpo e mente. Notar os pensamentos no lugar de acreditar neles, e retornar para a sua postura e respiração. E praticar com constância, de forma a criar uma estabilidade. Assim você pode expandir a sua compaixão, como uma árvore que pode crescer para cima porque tem raízes sólidas.

A terceira maneira de começar essa prática é usando 4 reflexões tibetanas, mas vai ficar para o próximo post porque tem muito a se falar delas, então não perca a continuação. E também o próximo Zencontros será com a Onryu Mary Stares, que tem estudado o Lojong por anos e liderou o período de prática do SFZC sobre ele, marca já na agenda o dia 12 de junho às 18:00 horas!