
O mar foi o meu primeiro mestre zen. Me lembro de ainda criança andar na praia e observar as suas transformações. O mar da manhã é diferente do da tarde, o de ida é diferente do de volta na caminhada matinal. Aprendi sobre a impermanência e o momento presente.
Não é somente o mar, o céu, a natureza estão sempre nos mostrando que tudo se transforma e como cada instante é único. Comecei a escrever esse post na praia, mas vim para São Paulo e fiquei pensando como ter essa relação com a natureza aqui na cidade? Pode parecer difícil, mas se você prestar atenção, tem um pedaço de céu na janela, uma árvore no caminho. Observar o que está ao nosso redor nos ensina.
Eu estou num apartamento da onde posso ver o sol nascer. O céu fica laranja e aos poucos surge a bola dourada do sol, trazendo luz e calor para começar o dia, ou, se chove, surge uma fina camada cinza entre a cidade e o meu olhar.
“As montanhas caminham e vocês devem compreender o caminhar das montanhas”‘. Escreveu Mestre Dogen, fundador da Soto Zen, no Sutra sobre Montanhas e Rios. Num outro texto falou sobre como os seres não sencientes ensinam o Darma.
O líder indígena Ailton Krenak fala sobre as montanhas sagradas “Em algumas regiões dos Andes, você encontra lugares onde as montanhas formam casais. Tem mãe, pai, filho, tem uma família de montanhas que troca afetos, faz trocas. E as pessoas que vivem nesses vales fazem festas para essas montanhas, dão comida, dão presentes, ganham presentes das montanhas.”
Quando escuto os ensinamentos do Krenak, percebo esse respeito e essa relação de aprendizado com a natureza, que é o que eu vejo no Mestre Dogen e que eu sinto quando olho para o mar na praia ou para o céu na cidade. Que eles são nossos mestres e nossos parentes. Como honrar essa herança?
