Desafios do “entre” • Challenges from “in between”

English here

O meu blog é sobre esse lugar, “entre”, ele não é divisão, é em relação. Trabalhar no blog é para mim falar sobre esse lugar, onde eu me vejo, e que, espero, possa também ajudar a outras pessoas, especialmente a quem se vê assim também. Eu sempre me senti “fora de lugar”, como se eu visse nos grupos da escola, nas vidas super organizadas e estáveis, algo que eu não pertencia, que eu não fazia parte. Não era o meu lugar.

O Zen me ajudou a sentir a conexão com tudo e todos e que a vivência nas diversas Sangas me permitiu incorporar essa sensação. Quem já fez um sesshin (retiro zen) sabe como nos sentimos íntimos com os outros participantes, uma intimidade profunda que se tem em silêncio. Viver num Zen Center é sentir isso no dia a dia, não é que você vai ser melhor amigo de todos, mas existe uma uma base comum que é a prática, que é dedicar a sua vida para despertar, ajudar os outros nesse caminho e buscar uma vida em harmonia.

A quarentena mexeu com a vida de todos, viagens que não aconteceram, mudanças na rotina, relacionamentos que terminaram…. Para mim, a quarentena fez da minha passagem de 3 meses pelo Brasil se configurar como uma volta de pelo menos um ano  e trouxe questões desse espaço “entre”.

Eu faço o zazen online com a Sanga de São Francisco, mas quando eu fecho o meu computador, para onde vai a minha conexão com ela? Por um lado, é claro, não vai a lugar nenhum, está sempre presente…. Mas por outro, não ter a presença física, não participar do dia a dia vai dando um distanciamento. Além disso, aqui eu estou me reaproximando da Sanga brasileira, como que eu consigo participar e realmente colaborar? Ou mais, como que eu consigo resolver essa equação da minha necessidade interna de fazer parte com o momento das Sangas? Como que eu desse espaço entre, posso contibuir de verdade e também cuidar das minhas necessidades verdadeiras?

No Genjokoan, Mestre Dogen escreve, “Levar adiante o eu à prática e realização dos dez mil darmas é delusão. Que os dez mil darmas ativamente pratiquem e realizem a nós mesmos é iluminação.” Como que a minha ação pode vir desse lugar que a realidade se manifesta e não tentando forçar a realidade? Essa diferença muitas vezes é sutil.

Meu corpo acabou de me dar uma lição. Eu tive um terçol há duas semanas que me levou a um médico acupunturista que descobriu que estava ligado ao meu fígado e à minha alimentação. Eu estava fazendo suco verde todo dia, cozinhando a minha comida com o mínimo de produtos industrializados, nada de latas ou congelados, fazendo o meu iogurte com leite vindo direto do produtor. Bastante castanhas e nozes – aquela sem sal porque é mais saudável. Mas o que podia estar errado? O meu suco verde tinha coisas de mais, linhaça germinada, beterraba, suco de laranja e limão, chuchu, pepino, alface, couve, maçã, gengibre, hortelã prá completar eu batia uma parte com banana e virava um smoothie. Eu estava forçando o meu corpo, impondo uma idéia de saúde e não ouvindo os sinais. Agora estou ajustando, voltando para o caminho do meio e procurando acolher a minha necessidade de pertencimento mas lembrando que quando a Roda do Darma gira, nada sobra nem nada falta.

3 thoughts on “Desafios do “entre” • Challenges from “in between”

  1. Como me sinto assim, fora do lugar vivendo nele. Uma sensação de ausência, as vezes tudo parece acontecer e num piscar o castelo se defaz. Como é bom sentar e de certa forma imobilizar algo que esta esta dentro.

    Liked by 1 person

Leave a comment